Por Giovanna Lauro, Alice Taylor e Clara Alemann
Adaptado para E se falamos de igualdade?
Relacionamentos românticos são uma parte comum da experiência adolescente na América Latina e no Caribe. No entanto, os jovens estão construindo relacionamentos enquanto também tentam navegar em sua própria identidade e no mundo ao seu redor, em meio a perspectivas limitadas de educação e emprego, pobreza rural generalizada e alta violência urbana.
Sabemos pouco sobre relacionamentos na adolescência, mas sabemos que o que acontece na adolescência – incluindo a violência no namoro – pode ter consequências perigosas agora e no futuro. Um dado alarmante 17 a 53 por cento das mulheres na região relatam ter sofrido violência física ou sexual por parte de um parceiro íntimo em algum momento de suas vidas[1], e evidências mostram que a violência no relacionamento entre adolescentes pode levar à violência por parceiro íntimo (VPI) na idade adulta. Precisamos entender melhor como a violência ocorre na adolescência e o que a impulsiona, para que possamos apoiar dinâmicas de relacionamento saudáveis e não violentas.
Nova pesquisa Um estudo publicado recentemente pela Equimundo e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) revela informações muito necessárias sobre como os adolescentes estão conduzindo seus relacionamentos: a maioria dos adolescentes recebe quase nenhum apoio para aprender a reconhecer seus próprios desejos e comunicá-los de forma assertiva, mas não agressiva, aos seus parceiros. Isso é preocupante, visto que os relacionamentos – sejam eles encontros informais, relacionamentos casuais ou coabitação – assumem papéis desproporcionalmente importantes em suas vidas, já que as expectativas sociais desencorajam os adolescentes a ter amigos, especialmente do sexo oposto, fora do relacionamento.
Mulheres jovens são orientadas a tolerar a violência
O estudo destaca a intensidade e a aceitação da violência nos relacionamentos, comportamentos controladores e normas sociais que reforçam a ideia de que violência ou controle são "normais". Uma jovem em Honduras afirma: "Quando eu contava [à minha mãe] que tinha problemas com meu namorado, ela me dizia que era normal, que as mulheres tinham que aguentar". O estudo também revela a escala geral da violência testemunhada e vivenciada por adolescentes em seus lares e comunidades antes de iniciarem relacionamentos.
Jovens, homens e mulheres, estavam interessados em refletir sobre o impacto que suas ações e experiências tiveram sobre si mesmos e seus parceiros. Um jovem de 23 anos do Rio de Janeiro falou sobre o desafio de lidar com os limites no sexo com uma parceira e atribuiu o uso da força ao fim do relacionamento: "Eu não a machuquei, mas foi algo mais forte... Eu não conseguia medir minha força na época..."
Particularmente em contextos onde algumas adolescentes descrevem os seus melhores relacionamentos como “não ter relações sexuais forçadas” e onde as adolescentes consideram que a monitorização da roupa, dos telemóveis e das redes sociais faz parte da rotina diária, iniciativas programáticas devem abordar explicitamente os comportamentos controladores e a violência emocional tão presentes na vida cotidiana dos adolescentes. É preciso começar a abordar a dinâmica dos relacionamentos muito antes do início da violência física e sexual. Esses programas também podem promover relacionamentos saudáveis, habilidades de mediação e assertividade para empoderar adolescentes e promover dinâmicas de relacionamento mais positivas.
Quebrar o ciclo da violência implica também fornecer apoio àqueles que sofreram ou estão sofrendo violênciaMelhorar a qualidade e a acessibilidade dos serviços públicos – abordando a desconfiança generalizada e a falta de conhecimento sobre os serviços de apoio disponíveis – é fundamental para que as intervenções possam ocorrer antes que a VPI se agrave. À medida que a natureza dos relacionamentos sexuais e românticos evolui – começando agora em idades mais jovens –, precisamos adotar novas soluções para trabalhar eficazmente com adolescentes de todos os gêneros e identidades sexuais, a fim de prevenir e responder à violência nos relacionamentos entre adolescentes. Precisamos estabelecer as bases para que os adolescentes sejam capazes de ter relacionamentos saudáveis e reconhecer padrões e sinais de alerta quando eles aparecem pela primeira vez, para construir relacionamentos saudáveis e prevenir a violência agora e no futuro.
Leia o relatório completo aqui e o resumo executivo em inglês, espanhol ou português aqui.