Criando Paz: Um currículo para promover cura, não violência, justiça racial e igualdade de gênero entre adolescentes aborda a questão urgente da violência comunitária que afeta os jovens em bairros urbanos de Pittsburgh, Pensilvânia. Nesta discussão, Cody Ragonese, Diretor Adjunto de Programas da Equimundo e coautor do currículo, fornece contexto sobre o desenvolvimento e os objetivos do programa, ao mesmo tempo em que reflete sobre os desafios da implementação.
Por que este programa/currículo e por que agora?
O Condado de Allegheny tem investido em esforços de prevenção da violência, com uma de suas iniciativas mais recentes sendo $50 milhões distribuídos por diversas organizações comunitáriasAntes deste investimento, a Equimundo e a Universidade de Pittsburgh firmaram uma parceria para pilotar o programa Creating Peace, um currículo focado na redução da violência e na promoção da equidade de gênero em Pittsburgh. Esta é a segunda parceria da dupla, após Masculinidade 2.0 e Sisterhood 2.0, e uma oportunidade para colaborarem em um programa mais centrado na violência comunitária. Também inspirado por Vivendo a Paz, um currículo para casais que se recuperam da violência em cenários de conflito como a República Democrática do Congo, este currículo foi contextualizado para incorporar justiça racial e ativismo juvenil e comunitário.
Por que essa combinação de tópicos/áreas de foco?
Para este currículo, e para o contexto, havia um desejo de integrar raça e identidade – com uma reflexão sobre gênero, cultura e tradições – mais do que anteriormente, a fim de mostrar como as normas sustentam a socialização. Perto do fim, o foco em fortalecer a autonomia dos jovens em relação a soluções para a violência lideradas por eles e pela comunidade se destaca fortemente, com ferramentas para operacionalizar uma causa, incluindo análises de partes interessadas, criação de mensagens, identificação de aliados e antecipação de reações. A chave enfatizada é o trabalho coletivo/comunitário.
Quem está sendo alvo e por quê?
O currículo é voltado predominantemente para adolescentes de 14 a 19 anos que vivem em áreas urbanas de Pittsburgh, onde há índices desproporcionais de violência, visando equipá-los e aprimorá-los com as habilidades necessárias para criar soluções que levem à transformação da comunidade. A parceria "Criando Paz" também é um exemplo de como alavancar conexões existentes para desenvolver programas, já que decidimos expandir o trabalho com a Universidade de Pittsburgh, que ainda possui algumas unidades implementando o Manhood 2.0.
Muitos dos recursos e exemplos são relevantes para Pittsburgh, mas o currículo pode ser adaptado a outros contextos usando as orientações de adaptação e implementação fornecidas.

Qual é o objetivo, missão ou visão mais ampla que você está tentando alcançar ou apoiar?
Criando Paz é um programa sincronizado com o gênero, o que significa que não trabalha apenas com meninos, mas também envolve pessoas de outras identidades de gênero. Um de seus principais objetivos é mudar normas de gênero prejudiciais e estereotipadas, particularmente aquelas relacionadas à violência e ao controle. Está alinhado com nossa missão e visão mais amplas em torno de prevenção da violência.
Outra grande esperança do programa – talvez a maior – é a unidade, ou coesão comunitária impulsionada por abordagens baseadas em traumas e reconciliação.
Processo e lições aprendidas
O envolvimento da comunidade é fundamental para reduzir a violência na comunidade e é um compromisso fundamental deste programa. O Criando Paz foi criado em conjunto com a colaboração de diversos líderes jovens e adultos da região de Pittsburgh, em diversas etapas, enquanto ouvíamos e aprendíamos com as experiências das equipes da Equimundo e da Living Peace.
Pesquisa participativa de base comunitária foi utilizada para finalizar o currículo, garantindo que o conteúdo repercutisse entre os membros da comunidade. Além disso, facilitadores foram selecionados na própria comunidade.
A Universidade de Pittsburgh utilizou um modelo de implementação testado e bem-sucedido durante o piloto do Manhood 2.0 e do Sisterhood 2.0. Em vez de contratar uma equipe central de facilitadores em tempo integral para implementar o programa Criando Paz, eles contrataram membros da comunidade que atendem jovens em regime de meio período para trabalhar com os participantes, permitindo maior contextualização do conteúdo e familiarização com as experiências vividas pelos jovens, além de maior potencial de sustentabilidade.
Lições importantes surgem a partir da construção de vozes comunitárias, da adaptação a contextos locais e do fornecimento de suporte sólido para implementação de base.
- Construa a partir das vozes da comunidade: É importante garantir que o conteúdo reflita plenamente as experiências das comunidades e de seus membros e leve em conta com precisão as responsabilidades estruturais e de agência individuais, para que os participantes e as comunidades saibam o que está sob seu controle e o que requer mudanças estruturais. Para o projeto Criando a Paz, vários membros da comunidade de organizações de apoio e facilitadores treinados forneceram à equipe de pesquisa informações sobre o conteúdo e puderam compartilhar suas preocupações, especialmente no que diz respeito a esclarecer com os jovens as desigualdades estruturais e institucionais em suas comunidades, pelas quais os participantes e as comunidades não têm culpa.
- Adaptável a diferentes contextos: Por meio de observações da facilitação e implementação do Criando a Paz, a equipe de pesquisa observou a adaptabilidade do currículo a grupos comunitários de diferentes perfis demográficos. A perspectiva de justiça racial e de gênero incorporada ao conteúdo do currículo Criando a Paz é elaborada de forma que o objetivo fundamental seja reconhecer, começar a compreender e celebrar a diversidade em si mesmos e em suas comunidades.
- Potencial com implementação comunitária/de base: Embora existam muitos benefícios em ter facilitadores comunitários, é fundamental ajustar a linguagem e as metodologias das atividades, além de ampliar o treinamento e o suporte. Muitas vezes, os currículos são elaborados com um perfil específico de facilitador em mente. Neste projeto em particular, a equipe teve a intenção de envolver facilitadores comunitários que já estavam integrados a diversas instituições comunitárias. Em alguns casos, isso significava que eles tinham treinamento formal limitado em facilitação ou experiência com esse tipo de programação. Portanto, era importante reforçar as notas e orientações para o facilitador no próprio currículo, bem como fornecer treinamento e suporte durante toda a implementação do programa.
Embora ainda em andamento, a implementação enfrentou obstáculos. Treinar facilitadores comunitários virtualmente durante a COVID tem sido difícil. Garantir o alinhamento de valores também continua sendo um trabalho em andamento. No entanto, o currículo se mostra promissor se tiver recursos e for avaliado adequadamente.
Com seu foco na cura e na promoção da não violência e da equidade, e com aprimoramento, a Criando Paz pode impactar Pittsburgh e além, empoderando jovens como agentes de mudança. Suas raízes nas comunidades, juntamente com sua ênfase no envolvimento e facilitação comunitários, são exemplos positivos de ir além da inclusão, rumo à apropriação.
Você pode acessar o currículo aqui, e fique ligado no próximo briefing de aprendizagem.